sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Mixed feelings...

A discussão é sempre a mesma: público vs privado. Há quem defenda acerrimamente o sistema público enquanto outros refugiam-se no privado. Cada um com as suas razões (válidas, na minha opinião) e limitações.
Se por um lado todos os cidadãos deveriam ter direito à saúde e à educação por igual não obstante o dinheiro ou os conhecimentos que têm, por outro a liberdade de escolha de cada um tem que ser respeitada. 
Ontem foi dia de nervos e preocupações. Mais um AVC sofrido com sequelas inevitáveis que, se devidamente acompanhado, poderia ter sido evitado ou pelo menos previsto e o seu impacto minorado. Digo eu, que não sou da área de saúde e a minha opinião vale o que vale. Muito pouco.
Mas ontem na Unidade Cerebrovascular do Hospital de S. José e em franco diálogo com a médica colocou-se a questão se estariam preparados para assistir este caso da melhor forma possível. A médica explicou que são a unidade de especialidade e referência da cidade e têm cuidados intensivos que alguns hospitais privados não disponibilizam. Acredito. Acredito que há equipamentos que os hospitais privados não adquirem devido ao elevado custo dos mesmos. Mas, infelizmente, também acredito que, nos hospitais públicos, os cuidados primários e intermédios muitas vezes são descurados, quer por falta de recursos humanos, quer por instalações deficitárias que não permitem a gestão do afluxo de utentes.
Este caso estava a ser acompanhado, há três meses, no Hospital de Santarém com um diagnóstico de tendinite. Um pé inchado e dores incómodas. Muitos anti-inflamatórios depois, a situação clínica mantinha-se. No passado sábado, em conversa informal e descontraída, verifica-se que o outro pé começava a apresentar sintomas idênticos. Muitas campainhas tocam a rebate e muitas questões se colocam sobre a diagnóstico de tendinite. Num abrir e fechar de olhos acontece um internamento por pneumonia que culmina num AVC.
Se os hospitais públicos dispõem de equipamentos  e de recursos humanos altamente especializados para os casos complicados, situação que não acontece em todos os hospitais privados, porque é que não se investe também nos cuidados primários e na prevenção por forma a evitar o sofrimento das pessoas e, em última análise, a poupar dinheiro aos cofres do Estado. Certamente que estes cuidados intensivos, quer do ponto tecnológico quer do número de especialistas envolvidos, saem muito mais dispendiosos do que uma correcta triagem, diagnóstico e consequente terapêutica eficazes. Digo eu que não percebo nada disto e sou uma sonhadora totó.

5 comentários:

Anónimo disse...

A questão pode ter resposta simples, mas de resolução complexa. Recursos técnicos avançados e recursos humanos especializados, no setor público, é a ordem natural das economias de escala. Se o estado tem mais dinheiro (em proporção) do que um grupo privado de prestação de cuidados de saúde, pode ter mais e melhor recursos operacionais. O problema está na mentalidade pobre! Pensamento típico (não genérico): "Ahh e tal, isto é público, se andar aqui a pastar quem paga é o estado, e eu até nem gosto muito deste governo, quero é que se lixem!" Mas quem se lixa, na verdade, é o utente! Depois, a questão da escala, também pode ter preponderância inversa. Hospitais e centros de saúde grandes, muitos equipamentos, muitos RH, muitos edifícios, maior dificuldade na agilização de processos e respectivo controlo. Não duvido da existência de RH altamente competentes e profissionalmente honestos no público, mas depois há alguns que se deixam levar pela inércia do sistema (já nem me refiro aos negligentes), e esses é que vão manchando o trabalho competente e dedicado. E é assim a vida... (eu também não percebo nada disto).

Anónimo disse...

A questão pode ter resposta simples, mas de resolução complexa. Recursos técnicos avançados e recursos humanos especializados, no setor público, é a ordem natural das economias de escala. Se o estado tem mais dinheiro (em proporção) do que um grupo privado de prestação de cuidados de saúde, pode ter mais e melhor recursos operacionais. O problema está na mentalidade pobre! Pensamento típico (não genérico): "Ahh e tal, isto é público, se andar aqui a pastar quem paga é o estado, e eu até nem gosto muito deste governo, quero é que se lixem!" Mas quem se lixa, na verdade, é o utente! Depois, a questão da escala, também pode ter preponderância inversa. Hospitais e centros de saúde grandes, muitos equipamentos, muitos RH, muitos edifícios, maior dificuldade na agilização de processos e respectivo controlo. Não duvido da existência de RH altamente competentes e profissionalmente honestos no público, mas depois há alguns que se deixam levar pela inércia do sistema (já nem me refiro aos negligentes), e esses é que vão manchando o trabalho competente e dedicado. E é assim a vida... (eu também não percebo nada disto).

Papoila Bem Me Quer disse...

Concordo mas será que não existe outra variante?
Aquela que, infelizmente, condena as pessoas e se traduz em custos superiores mas que a mentalidadezinha vê como poupanças reais e efectivas a curto prazo?
O que sinto (e senti com familiares) é que os hospitais públicos/centros de saúde não disponibilizam/prescrevem os exames de diagnóstico necessários não por não terem os recursos operacionais mas por limitação orçamental. Em português popular diz-se poupar na farinha para gastar no farelo. Penso eu de que...

Anónimo disse...

Sim, essa variante é real. Faz parte da imensa equação que é a operacionalização do sistema de saúde. Mas o problema maior não é a limitação orçamental. O grande problema, que por sinal está intimamente ligado com a mentalidadezinha, é o desperdício de recursos com regalias injustificadas, RH desonestos que recebem por um trabalho que não fazem, contratos de aquisição de produtos e serviços altamente lesivos, etc, etc. Sim, tem razão, as pessoas não têm culpa da existência dessas ineficiências do sistema mas, julgo eu, é por aí que tem que começar a mudança. Porque garanto-lhe, houvesse orçamentos mais desafogados, e as ineficiências, não só se mantinham, como aumentavam em proporção. [eu percebo que seja difícil esta "discussão" quando se sente na pele a injustiça :(]

Papoila Bem Me Quer disse...

Infelizmente tenho que concordar. Podia haver todo o dinheiro do mundo, se a mentalidadezinha não mudasse, os resultados seriam os mesmo, ou como disse, piores ainda!
Quem não conhece alguém que trabalhe num hospital público e que não tenha em casa uma farmácia hospitalar? Não serão todos, obviamente, mas há sempre um(a) chico(a)-esperto(a) que tem um saco com cola. As coisas que entretanto ganharam pernas colam-se a esses sacos não se sabe como nem porquê.
Falar em RH da função pública é coisa que dá pano para mangas. Apesar de todas as medidas de austeridade impostas ultimamente, continuo a ver o uso e abuso de horários "esquisitos", licenças, dias pedidos, baixas fraudulentas, desculpas de mau pagador, etc... Tudo sempre entendido como um direito, claro está.