quarta-feira, 29 de junho de 2011

Que atire a primeira pedra...

Nós, que somos imortais, nós que estamos vivos e por isso nos presumimos imortais, nós que temos a imortalidade toda condensada no segundo que passa, no instante que se consome aqui e agora, nós avisamos toda a gente que se pode morrer por não usar cinto de segurança. Nós, donos supremos e absolutos da moralidade, da perfeição, da conduta irrepreensível, nós que nunca tivemos relações sexuais sem preservativo, nós que nunca pusemos um cigarro na boca, nós que não comemos enchidos nem pão com manteiga, nós que deixámos de comer carne de vaca e depois aves e depois pepinos e deixaremos de comer o que tivermos que deixar de comer, nós que não damos batatas fritas com ketchup aos nossos filhos, nós que sustemos a respiração quando nos passeamos numa cidade poluída, nós que nunca passámos um risco contínuo nem um semáforo vermelho, nem excedemos jamais o limite de velocidade e nunca, nunca nos esquecemos de dar o pisca, nós que nunca tivemos um ato irrefletido, irresponsável, imponderado, incorreto, inconsciente, precipitado, nós que trabalhamos arduamente em cada segundo das nossas vidas para sermos eternos, nós que conseguimos fazer o tempo estancar, as doenças reverterem, a má sorte afastar-se. Nós, os grandes e legítimos juízes do comportamento dos outros, condenamos a estupidez do miúdo dos Morangos com Açúcar, que tinha o carro e o corpo que gostávamos de ter, porque, rais'parta!, não levava cinto de segurança. Se levasse, seria perfeito e imortal, como nós.
Mãe preocupada

2 comentários:

Anónimo disse...

Será a verdadeira questão a ausência de cinto de segurança? Até porque esse fato só prejudicaria o próprio. O que eu condeno, a avaliar pelas imagens, é a hipotética velocidade excessiva a que conduzia. Não acredito que uns meros 120km/h, provocassem tais efeitos, tão nefastos. E assim, é duplamente condenável. Por colocar em causa a vida do próprio e de terceiros. De resto como me condeno a mim quando tenho comportamentos idênticos, por uma ou outra razão, sempre injustificáveis. Enfim, casos destes existem diariamente, infelizmente. Fossem todos eles tão mediatizados e os comportamentos na estrada mudavam com certeza. Resta-nos lamentar mais uma vida. E o valor de uma vida, é igual para uma pessoa famosa, como qualquer plebeu.

Papoila Bem Me Quer disse...

Exacto! Foi uma vida jovem, um filho, um amigo que se perdeu, independentemente do estatuto social que tinha. Mas todas as moralidades atiradas, muito empoladas pela imprensa sensacionalista, parecem levar a crer que nós (os imortais - por enquanto), jamais as cometeríamos, quando, infelizmente, fazem parte do nosso dia a dia! Poderão ser erros, deslizes, esquecimentos, pressas ou seja lá o que for que nos faz, tantas e tantas vezes, pisar o risco... até um dia! Até ao dia.