sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Fantasias...

Mamãe desde a sua aposentadoria, que coincidiu com o luto pela avó, nunca mais foi a mesma. De uma vida a correr, a chegar diariamente a casa às dez da noite mais as preocupações de ter uma mãe para cuidar não deixavam muito tempo para melancolias nem filosofias. De repente e de seguida aconteceu o vazio. Não tinha como ocupar os dias imensos que se seguiam uns aos outros. Com calma e tempo as coisas foram mudando, o luto aconteceu e foi aceite e a vida continuou. Mas mamãe nunca mais se repetiu. Repetir, repetir.... a senhora repete-se muito e espera que cada vez que conta a mesma história o entusiasmo seja o mesmo. Mas pior é conversar ao telefone com mamãe. Mamãe perde-se e não ouve. Ouve mas não escuta. E fala, fala muito e preocupa-se mais por esta filha viver em Moscovo.  Se estou bem, se me alimento, se cuido de mim, se durmo o suficiente - suponho que sejam coisas normais de mãe. Mas quando esta filha está em casa (formosa e segura) mamãe gosta de competir com a filha e ontem o tema foi o frio. O frio que se sente no burgo onde vive (a uns 20 km deste burgo aqui) como se eu nunca tivesse experimentado nenhum frio radical (-47ºC não é suficientemente para ganhar!). Porque ontem estava ou tinha mais frio que o habitual. Sugeri que vestisse mais roupa. Checked. Que usasse uma manta. Checked. Que ligasse o aquecimento. Checked. Eu, pessoa limitada, não conseguia perceber de onde vinha tanto frio, não deveria ser da Sibéria, com certeza. Falou-me no vento. Que fazia muito vento. Lembrei que deveria fechar as janelas. Checked.
Esgotadas todas as alternativas possíveis, concluí que mamãe tem o fetiche de se enfiar no frigorífico com a ventoínha ligada. A idade é tramada!

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